domingo, 19 de fevereiro de 2012

padre fabio de melo - Hott Mp3 - Música Online

padre fabio de melo - Hott Mp3 - Música Online

Programa Direção Espiritual 1º ao vivo do ano em 15.02.2012

A velhice e as perdas naturais

A velhice e as perdas naturais O tempo passou e a velhice chegou. E agora? A juventude é um período que favorece muitas fugas. A vitalidade do corpo, a vida agitada, os muitos compromissos, as múltiplas possibilidades, tudo faz com que esse tempo da vida seja naturalmente dinâmico. A impulsividade é a marca dessa fase. Com o passar do tempo, essa dinâmica vai se transformando. Vamos ficando mais lentos, mais criteriosos, e o leque que antes era formado de inúmeras possibilidades vai se tornando mais estreito. São as estações da vida e suas mudanças constantes. São os encaminhamentos naturais do tempo a nos conduzir ao lugar da pergunta - E agora? O tempo passou e a velhice chegou. E agora? A escritora mineira Adélia Prado fala, de forma muito interessante, dos impactos da velhice na vida humana. No poema “Pedido de adoção”, a escritora identifica na personagem a saudade de ter a mãe. Esta orfandade é reconhecida no auge da velhice, momento da vida em que os limites a aprisionam fazendo-a querer os mesmos cuidados que as crianças. Veja com que beleza e simplicidade a autora faz a leitura desse sentimento. “Estou com muita saudade de ter mãe, pele vincada, cabelos para trás, os dedos cheios de nós, tão velha, quase podendo ser a mãe de Deus, não fosse tão pecadora. Mas esta velha sou eu, minha mãe morreu na roça, os olhos cheios de brilho, a cara cheia de susto. Ó meu Deus, pensava que só de crianças se falava: as órfãs.” O sentimento da orfandade lhe confere a coragem de querer o retorno no tempo, de driblar a crueza de sua idade e reivindicar o direito de ter um colo onde deitar a cabeça e receber os cuidados maternos. A personagem manifesta o desejo de voltar a se enrolar no tecido da descendência, como se quisesse suturar sua carne já envelhecida à carne jovem de sua mãe, que só existe em suas saudades, e assim rejuvenescer. É a personagem diante do fato inevitável de que o tempo passou e que agora, velha, como um dia estivera sua mãe, reconhece em sua alma a mesma condição em que costumamos classificar as crianças órfãs. A personagem e a velhice. Destino inevitável que os pés humanos encontrarão ao longo da existência. Não há outro jeito. É regra da vida. Envelhecer é um processo natural. O corpo, que antes possuía uma vitalidade extraordinária, aos poucos, bem aos poucos, vai se curvando aos ditames do tempo. Estamos expostos aos efeitos do chronos*, (*significa tempo em latim) o tempo que passa. Desde o nascimento, o corpo se encaminha para o seu processo final. Nasce direcionado para o fim, uma vez que o seu percurso terá como meta a sua desmaterialização. Durante esse percurso viverá as diversas fases da vida, extraindo de cada uma delas suas possibilidades e seus limites. (Trecho do livro "Quando o sofrimento bater à sua porta" de padre Fábio de Melo)